segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Hot wheels e mil caras conhecidas

Há um e-mail que vive circulando por aí (já o recebi duas vezes) chamado “sem etiqueta, sem preço”. A mensagem refere-se a um músico, Joshua Bell (um dos melhores do mundo) que passou 40 minutos tocando no metrô de Nova Iorque com seu superviolino de 3,5 milhões de dólares. E então? Mais de mil pessoas passaram por ele sem nem espichar o rabo do olho.
Bem, isso me veio à cabeça porque hoje conheci o Ítalo, porque tenho um sobrinho que tem quase 5 anos e porque Maria Eduarda está por chegar.
Fui comprar o enxoval da minha filha e me senti meio oprimida em alguns ítens. Tudo muito cheio de caras conhecidas... Pooh, Minie, Mikey, Moranguinho... Tentei fugir deles. Ainda posso escolher.
Desde que meu sobrinho nasceu, não acerto na maioria dos presentes. De fato nunca fui familiarizada com o universo infantil, estou começando meus primeiros passos nessa direção. Quando eu morava na Espanha, mandei uma caixa-livro-objetos, para compor histórias. Uma coisa para brincar pais e filhos, mas acho que errei na idade, era para uma criança com a idade que ele tem hoje. Depois (ou antes, não sei) teve uma barraca dessas que parecem uma casinha, mas ocupa muito espaço e acho que não é bom para espaços pequenos... O último que dei, achei super poético. Comprei baldinho, pazinhas, terra, vaso e sementes. O plano era plantarmos juntos, curtir e ele acompanhar entusiasmado o crescimento da plantinha. Pus tudo numa caixa e lá fui eu, para uma tarde ecológica. Pacote na mão, ele abriu, escrutou e perguntou “cadê a surpresa”? (tinham prometido uma surpresa que eu levaria a ele, acho que geraram muita espectativa... tal palavra sugere que devemos surpreender). Bom, tentei manter o ânimo, fazer de conta que era super legal plantar as sementinhas e passamos juntos dez minutos desentusiasmados. Fiquei pensando que até então comprei o que era legal para mim, não para ele (em geral na minha infância não ganhei presentes de “fazer coisas juntos” e achei que seria bacana). Essa situação precisava de ajustes...
Fui hoje para o corredor de brinquedos encontrar algo super legal para o dia das crianças e aniversário do meu sobrinho. Dentro do que pretendia investir, achei interessantíssimo um caminhão de bombeiros que atira água e também uma picape que puxa um jetski. Ambos indicados para a faixa etária buscada. Achei bonito. Mas ainda a dúvida, não queria errar de novo e dar presente para mim... Vi então um garoto de olhos arregalados de vontades, sozinho enquanto os pais deviam estar em outro corredor:
“Ei, você pode me ajudar?”
“Posso”
“Se você tivesse 5 anos, gostaria mais deste caminhão ou dessa caminhonete com jetski?”
“Quando eu tinha 5 era melhor esse que joga água”.
“Quantos anos você tem?”
“Dez”.
“Então este é mais legal?” Perguntei já abraçando a caixa de uns 50 centímetros.
“Olha, legal, LEGAL MESMO, é Hot Wheels.”
Cara minha de exclamação.. senti a sombra de tia chata sobre mim...
“Vem aqui ver” (ele estava entusiasmadíssimo). “Esses aqui, ó”.
Uma coleção com 5 carrinhos minúsculos, mesmo preço do meu super caminhão de bombeiros de 50 centímetros que joga água.
“Isto é legal?”
“É o melhor, ainda mais se tiver o carro tubarão”.
Ítalo foi me mostrando as diferenças de modelo, o carro tigre (um pouco menos legal que o tubarão), um outro modelo estrambólico que é o carro mais chato de todos.... Até que, buscando, achamos a coleção com o carro tubarão, chefe de todos e super legal.
Agradeci a lição e ele continuou ali, babando numa pistinha de automóveis da Hot Wheels.
Lembro que na minha infância tive uma borracha da Pato Donald. A-ma-vaaa. Também uma boneca “cafezinho” da coleção Moranguinho (tenho até hoje, gosto do cheiro e ganhei da minha prima).
Na adolescência fiz (venci pelo cansaço) meu pai me comprar um jeans M. Officer, última moda e o olho da cara. Nem usei muito... eu era gordinha e jeans da moda só existe pra corpinhos na moda. Comprei justo.
Depois disso fiquei pensando no encanto “adulto” por aquela marca cujo símbolo parece uma letrinha C esticada embaixo, naquela outra que mostra um cavalinho preto num fundo amarelo, ou naquela com um jacaré de boca aberta... Pra pensar...
PS. Para quem quiser ler a notícia do Joshua Bell e a iniciativa do jornal Washington Post no metrô, acesse: http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=160685&visual=3&layout=10

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