quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Maria, meu pingo

Às vezes me pergunto como posso amar tanto esse pingo de gente. Na vida pré-Maria, tudo era completo, nunca senti que faltava algo. Mas após sabê-la, lembro-me de como era antes e... como podia ser?
2010 foi um ano surreal. Tantas coisas ao mesmo tempo, tanta intensidade, tanto trabalho, tanto aprendizado, tanta angústia e, sim, felicidade. Foi ano de aprender a fazer tudo o que eu fazia antes, transformando e adaptando, em conjunto com todas as coisas novas. Acho que sou mais cansada eficiente agora.
Antes de Maria nascer eu acordava às 6h, tomava meu banho, preparava meu café da manhã e sentava-me para tomá-lo, lendo notícias e e-mails. Escovava meus dentes, passava uma base sob os olhos e um pó na pele. Dava uma ajeitada rápida no cabelo. Saía calmamente às 6:55h rumo à escola.
Em minha vida pós-Maria, depois de uma ou duas acordadas na madrugada (quando sim, penso nos bebês do futuro, dotados de um botão ON-OFF), levanto-me arrastando-me às 6:15h, dou uma mamadeira, troco sua fralda, vou pro banho, arrumo suas coisas, arrumo minhas coisas, engulo o café da manhã, espicho o olho pro espelho para ver se não há nada anormal e saio esbaforida com um bebê embaixo do braço, às 7:05h.
Isso pra falar apenas do que aconteceu das 6 às 7 horas.
Minha rotina virou do avesso. Mantenho a atenção aos meus pais, irmãos e sobrinhos. Mando e-mails regulares aos sogros com fotos e notícias da pequena. Porém, a dedicação aos amigos caiu. Faltam horas dentre as 24. É tanta junção de afazeres... Em alguns devaneios me imagino enchendo os pulmões de ar e dando um sopro bem forte no mundo, fazendo com que tudo pare. Nesse mundo em suspenso eu poderia ler um livro e dormir várias horas.
Sou mais feliz do que era antes. Minha compreensão de mundo mudou. Assim como o meu entendimento sobre minha avó e mãe.
Minha vó Lica, que Deus a tenha, não podia me ver que dizia: “Que você arrume um marido bom”. Esse “bom” não estava vinculado a um “bom partido”, no que se refere ao senso comum, financeiro. Mas no sentido de “alguém que acompanhe bem”. Quando estamos abraçadinhas e Maria adormece, me vem este pensamento: E quando eu e Eduardo faltarmos? E em seguida vem: vamos fazer um excelente trabalho agora, a cada dia. Educá-la para ser equilibrada, independente e feliz. E então me vem minha avó em meus pensamentos. E olho para Maria e penso: Que você encontre alguém que a acompanhe bem.
Meu pinguinho bem cuidado é o devir de um pingão, feliz.