sábado, 21 de novembro de 2009

Paz de espírito (isso é pleonasmo?)


Faz uma hora que acordei me afogando de calor. Estou na sacada tomando a fresca. Na rede. Acordada no meio da noite mas com sensação de paz e alegria imensas. Esse ventinho que não chega a ser gelado e esse quase silêncio me trazem lembranças de praia, de férias já vividas, de descompromisso, de um bom livro, de palavras cruzadas e de um sovete de palito.
Maria Eduarda no mesmo ritmo, fazendo ondinhas suaves na minha barriga, de tempo em tempo. Uma marolinha.
Semana passada fomos vê-la chupando o dedão. Apresentação cefálica, dorso à esquerda, 1860 g, 32 semanas... Mãe com uma super pança. Em geral sentindo-me pesada e lenta, ainda que hoje tenha acordado cheia de energia e quase não me sentindo grávida e grande. A sensação nova é uma dorzinha no osso do púbis (juro que algumas vezes me vem a imagem de um abridor de garrafas se encaixando de frente e puxando-o para cima, como uma coca cola). Uma dor ardidinha. Ah, tenho um pouco de colostro.
Todo mundo me pergunta se já está tudo pronto. Não está. Mas nestes próximos quinze dias tudo estará, segundo o planejado. Marceneiro pintando uns móveis, berço a ser entregue, um quadro por finalizar, a reforma de uma poltrona.
Tenho lido umas dicas de organização doméstica para facilitar minha vida e criar alguns hábitos antes da maternidade. Desde que fiquei grávida já melhorei muita coisa (até então não fui exemplo de praticidade e vivia adiando algumas resoluções)... ainda bem que todo o processo de fabricação da criança (e de fabricação de um pai e de uma mãe) dura 9 preciosos meses.

sábado, 7 de novembro de 2009

Os custos da pancinha



Esperei meses para ostentar esta pancinha. Uma delícia alisá-la. Sete meses hoje. Me olho de frente e me gosto. Me olho de perfil e me gosto também.
Mas, como tudo, a pancinha tem seu preço.
Acho que os maiores custos são as horas de sono, o volume de comida e ar que consigo administrar e o xixi.
Lembro que quando eu era criança meu pai comprou uma TV e o que me chamou atenção foi o tanto de isopor que veio calçando aquele trambolho dentro da caixa. Igual a mim, na cama. Estando eu de lado, tenho um travesseiro ou dois na cabeça (passei anos sem usar travesseiro), um no meio das pernas, um no meio dos braços... às vezes um nas costas, para dar um apoio. Às vezes quero virar pro outro lado, faço a mudança dos travesseiros. Quando me ponho de barriga pra cima (agora coloco mais alguns na cabeça pra ficar meio levantada), acordo depois de um tempo com uma dorzinha no sacro. Volto pro lado.
Se os travesseiros são demais, o ar é de menos. Li que tenho sim ar suficiente, mas a sensação é que não tenho. Às vezes dou umas respiradas bem fundas pra ver se entra mais um pouquinho. Já a comida parece muita, depois de comida. Almoço e passo horas parecendo que acabei de almoçar.
Por último o xixi.
Tem coisas que ninguém conta: temos escapes de xixi. Fiz um levantamento com ex-grávidas, começando, claro, com minha mãe. Quase uma unanimidade: tosses e espirros jogam gotinhas de xixi involuntariamente para fora de nós. A volta dos absorventes, ainda dos mais finos.
Mas também há saldos a favor: recebo afagos e elogios, tenho a preocupação e interesse de todos a minha volta e desejos de bom parto. Outro dia no levador da escola, uma desconhecida me desejou boa hora. Achei tão afetuosa as palavras. Ganhei o dia.
Estou com menos cintura, com duas novas pequenas estrias para a minha antiga coleção do quadril, com mais cansaço, com algumas contrações doloridas. Dia 10 tenho obstetra, vamos saber como anda meu saquinho de açúcar.
E para constar, minha percepção de mundo mudou: sensações térmicas, cores, sabores... Sempre gostei de cores frias, verdes e azuis. Ando apaixonada por amarelos, laranjas e vermelhos.