quinta-feira, 29 de abril de 2010

Maria, vida e visão de mundo

Desde que Maria nasceu (na verdade antes) estou mais atenta à vida. Não propiamente a minha vida, mas VIDA, num modo amplo, biológica e espiritualmente falando. E também estou mais humana, com H.

Quando descobri minha gravidez, passei horas assistindo vídeos da concepção e desenvolvimento fetal. Aquela minusculeza dividindo-se e multiplicando-se me deixou embriagada de vida. Maria estava assim dentro de mim, em transformação milagrosa, um serzinho abrigado e nutrido. Nasceu de corpinho perfeito, alojando sua alminha simpática. A visão daquele bebezinho sensibilizou-me até o último fio de cabelo e sensibiliza-me a cada dia.

Sempre tive respeito por deficiências, física ou mental. E sempre censurei-me severamente quando algum pensamento menos nobre passava em flash pela minha cabeça. Ainda mantenho o respeito, mas agora que sou mãe tudo mudou.

Nestes dias há uma propaganda na TV, sobre uma instituição, que mostra crianças nascidas sem braços. São tão sorridentes, tão cheias de vida, tão... crianças... Imediatamente penso: poderia ser minha filha. Já outro dia no supermercado um adolescente com alguma deficiência mental falava sozinho e ria. Pensei: poderia ser meu filho. Me encho de compaixão.

Minha visão da infância tornou-se tão sagrada que ver as tantas barbaridades que acontecem contra crianças me angustia o coração. A de hoje foi uma notícia sobre um aborto induzido na Itália em que o feto nasceu vivo e não prestaram socorro a ele. Seguia vivo 24 horas depois mas sem o auxílio não sobreviveu. Senti tristeza e impotência. Deixaram esvair-se a vidinha daquele corpinho já traumatizado pelo aborto.

A maternidade me deixou assim. Cada madrugada de silêncio que estou amamentando me sinto unida a todas as mães. Fico imaginando quantas não estariam na mesma posição naquele mesmo instante. E sinto que Maria está unida a todas as filhas e filhos do seu tamanho. Acho que por isso mesmo me dói tanto ver bebês sofridos.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amamentação, mamadeira e chupetas

Estimo que contribuo com uns 20% da alimentação de Maria. O restante é suprido pela Nestlé.

Quinta passada fomos à pediatra. Maria está na média de peso para sua idade e acima da média da altura. Então está magra. Então deve mamar mais!

Desde que nasceu dou seu complemento com a ajuda de uma sonda e, quando há algumas semanas começamos com a mamadeira, ela a princípio não gostou do bico. Estou acostumando-a desde então a mamar na mamadeira uma ou duas vezes ao dia. Comecei a introduzir a mamadeira já pensando que daqui a 3 semanas ela iniciará no berçário e não haverá outra forma.

Hoje estávamos mamando felizes na mamadeira quando ela abriu o berreiro. Achei que alguma coisa estava doendo, haviam lágrimas. Coloquei no peito e ela seguiu sua mamada satisfeita. Troquei o bico da mamadeira pela sonda e ela tomou a metade do leite que faltava.

O mesmo acontece com a chupeta. Quando ela chupa todos os dedos, a mão inteira, não me importo. Mas quando ela insiste no dedão eu insisto na chupeta... ela fica irritada com a troca e despreza a chupeta. Até comprei um outro modelo, simétrico. Nada.


 
Pois quis saber qual era o lance do dedão e coloquei o meu na minha boca. Delícia. Encaixe perfeito. Por que não inventam uma chupeta em forma de dedão?

domingo, 25 de abril de 2010

Foto da pequena

Maria com quase três meses.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Berçário

Dia 21 Maria cumprirá 3 meses. E então, mais um mês e volto ao trabalho.

No primeiro mês de vida dela, em que eu andava mais morta que viva nas mamadas madrugada adentro, rezei por 6 meses de licença maternidade. Agora que o estado zumbi passou, e que Maria dorme a noite toda, sinto-me bem disposta para voltar ao trabalho. Daí vem o dilema: onde deixar Maria?

Fomos hoje conhecer o berçário para onde possivelmente ela irá. Gostei. Tudo muito limpo, arejado, calmo. Uma funcionária foi nos mostrando cada espaço e explicando as condutas... até que chegamos ao berçarinho, onde ficam os pimpolhos do tamanho da Maria. Pelo vidro fiquei checando a dedicação, a atenção e mesmo o carinho das cuidadoras. Uma menininha de uns 5 meses estava no trocador, recém banhada, tendo seu body e mijão colocados. A pimpolha parecia bem e familiarizada. Foi tirada do trocador e colocada no colchonete no chão, com outra criança e outra cuidadora. Abriu um sorriso.

Fiquei imaginando minha Maria ali. MINHA Maria!

Tentei identificar que sentimento era aquele que me possuía, indomável. Eram ciúmes. Ciúmes de pensar em outra pessoa recebendo seus sorrisos, sentindo suas mãozinhas em torno do pescoço, acudindo seus choramingos, ganhando sua confiança, vendo-a dormir e acordar. Tudo no meu lugar.

Tenho mais 40 dias para administrar meus sentimentos. Que difícil.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Amamentação, o prazer depois do calvário


Desde o primeiro dia em casa Maria dorme em seu quarto. Depois de nosso ritual de todas as noites, de beijinhos e de abracinhos de boa noite, coloco-a levemente desperta em seu bercinho. Ela chupa uns dedos, às vezes fala umas coisinhas, fica em transe e dorme sozinha. Acho positivo que seja assim pois tento educá-la para ser independente. Mas é verdade que me dá uma sensação de perda perceber que ela não precisa de mim para dormir. De novo um problema mais meu que dela.

Hoje fizemos nossa primeira sessão de massagem, com óleo mineral. Deitei-a peladinha numa fralda e nunca pensei que ela gostaria tanto. Ficou cheia de sorrisos e percebi que foi todo um êxito. Durou uns 7 minutos.

Ando meio preocupada com essa coisa de chupar os dedos. Maria não gosta da chupeta. Tentei. De uns dias pra cá ficou mais intensa essa coisa de sugar as mãos. Acordo no meio da noite ao som do “chup chup”. Vou para o quarto dela e dou de mamar com ela dormindo.

Amamentar tem sido muito bom. Não li muito a respeito da amamentação quando estava grávida. Acreditava que o bebê nascia, bastava colocá-lo no seio e o leite desceria dali a poucas horas, numa experiência de puro prazer. Tudo lindo e poético, como nessas fotos de revista. Pois o que ninguém conta é que no início a amamentação é um martírio. Nos primeiros dias minha vontade era pegar uma carona num cometa e desaparecer, com os peitos em chamas. Maria tem uma sugada forte, que chamo carinhosamente de “martelada”. Pois assim era: a cada mamada sentia que martelavam meus mamilos. Ficaram tão sensíveis que parecia que explodiriam a qualquer momento. No dia em que a pele saiu (e Maria engoliu), brotaram lágrimas dos meus olhos. Pomada, leite, banho de sol. Tudo paliativo. O que cura mesmo é mamar e mamar, até formar uma pele de couro de jacaré em substituição à pele perdida. Foram uns 12 dias de calvário.

Não tenho tanto leite quanto gostaria e isso foi (ainda é?) motivo de frustração nas primeiras semanas. Tomei de tudo: plasil, cerveja preta, canjica, canja de galinha, chá de erva doce, água inglesa, mil copos de água. Maria começa a mamada a todo vapor e dalí a uns 5 ou dez minutos, começa a dar tapinhas e soquinhos no meu peito, desesperada por mais leite. Complemento suas mamadas com Nan e com o auxílio de uma sonda no canto de sua boca. Maria continua sua mamada. Nem percebe o artifício.