Amanhã nossa filha cumprirá duas semanas de vida fora da barriguinha. Às vezes olho pra ela e custo a acreditar que ela é a mesma que eu sentia dentro de mim. Mexe muito bracinhos e perninhas. Soluça a toda hora. Algumas vezes procura o peito com sofreguidão, como se ele fosse fugir.
Os últimos dias de gestação foram difíceis. Psicologicamente difíceis. Fisicamente, apenas o cansaço. Desde 1º de janeiro esperava pelo sinal de que ela chegaria. Intensifiquei caminhadas, aconselhei-me com minha doula, fiz acumpuntura, conversei com Dr. Alfredo, fiz exercícios na água... Queria um parto normal e uma possível cesária me arrepiava os cabelos.
Estava com mais de 40 semanas quando Dr. Alfredo agendou o cheque mate. Dia 21 faríamos a indução, com 41 semanas. Iniciamos a indução ainda na madrugada, acreditando que dali a um tantinho começaria a sentir as contrações. Apenas algumas cólicas esparsas. Internei às 7:30h e aplicamos os comprimidos mais três vezes ao longo do dia (um comprimido relativamente grande, colocado no fundo da vagina). Caminhei, almocei, cochilei. Nenhum sintoma que me fizesse alarmar. Comecei a ficar ansiosa.
Às 19:30h eu estava com 1 cm de dilatação. Dr. Alfredo recomendou a cesárea, com ares de paizão. Fui para o centro cirúrgico entre lágrimas. Pavor. Enquanto estava curvada e o anestesista “desinfetava” a pele das minhas costas, eu pedia a Deus pra tudo dar certo. A enfermeira segurava nos meus ombros e aqueles minutos pareceram eternos. Deitei e as pernas esquentaram, depois formigaram. Depois umas pressões aqui e ali. Desinfetaram a barriga. Acho que também as pernas. Passaram uma sonda pela uretra. Eu disse “Dr. Alfredo, espere mais um pouco, ainda sinto alguma coisa”.
O anestesista era um bom narrador, foi me contando tim tim por tim tim cada detalhe até o nascimento da Maria. Ele disse ao Eduardo, “pode ligar a câmera, porque vai nascer”. Eduardo estava em êxtase. Ele que fala relativamente pouco e discretamente, dizia alto “Maria, Maria, olhe pro papai”. Eu, entre lágrimas e soluços.
Quando ela nasceu me senti tão aliviada que assim que ela saiu da sala com o Eduardo e com a pediatra, passei a rir e gargalhar.
A coisa mais estranha de estar anestesiada (e consciente) foi ver a minha perna erguida lá pro alto e não senti-la, enquanto a enfermeira me manipulava. Parece que não era parte de mim. Acabou a cirurgia e imediatamente passei a sentir coceiras horrorosas. Começou simultaneamente nas duas axilas.
Fiquei umas quatro horas na sala de recuperação. A uma da manhã fui pro quarto. Uma meia hora depois entrou uma enfermeira empurrando um bercinho de acrílico. Ela pôs Maria Eduarda em meu braço direito para mamar. Indescritível a emoção que senti. Disse “Oi, filha. Como você é linda”. Não pude parar de chorar e assim permaneci toda a primeira semana. Emoção irreprimível cada vez que me lembrava desse nosso primeiro contato íntimo, apenas nós, quietinhas, quentinhas, abraçadas.
Nestas duas semanas parece que entramos em um turbilhão, num tempo paralelo. Tudo voou. Nos fins de tarde da primeira semana eu entrava num estado “blue”, emotividade. Olhava pela janela, via o trânsito e pensava “nossa, a vida continua lá fora”. Esta semana a emotividade vem no nascer do dia, quando eu ainda desperta vejo a noite acabar sem quase pregar os olhos. Hoje, às seis da manhã, ainda na mamada começada às quatro, meus olhos estavam em órbita. Numa mistura de sonho e realidade pensava se o Eduardo não teria algumas glândulas mamárias atrofiadas, como um vulcão adormecido, esperando um fator desencadeante para a produção do leite. Fiquei ali, Maria sugando e eu de olhos fechados imaginando o Eduardo de seios fartos e férteis (e peludos).
É muito bom ler post de partos assim, "tranquilos"... tenho muito medo da hora do parto, por isso venho sempre lendo e lendo... to em dúvida sobre o que é melhor, normal ou cesáreo... um abraço e parabéns!
ResponderExcluirQUERIDOS ADRIANA E EDUARDO!
ResponderExcluirO RELATO DO PARTO É MUITO VERÍDICO, PORQUE GESTAÇÃO PROLONGADA. IMAGINO TUDO, POIS PASSEI POR TUDO ISTO EM 1984, 1985 E 1987. NADA É FÁCIL, MAS O QUE TENHO A DIZER É QUE VCS CURTAM A PEQUENA MARIA EDUARDA....OS ANOS PASSAM, AS COISAS MUDAM E NADA É TÃO MAIS FÁCIL ASSIM. OS FILHOS CRESCEM, OS PROBLEMAS TBÉM...AH! COMO GOSTARIA QUE O TEMPO VOLTASSE ATRÁS...HOJE, MINHA VIDA É TRISTE, MAS TENHO COMO ALEGRIA COTIDIANA O MEU AMOR PELA ENFERMAGEM, PELA OBSTETRÍCIA, POR BARRIGUINHAS E BEBÊS.
MEU DESEJO É QUE MARIA EDUARDA AME, RESPEITE E SEJA UMA FILHA MARAVILHOSA PARA VOCÊS.
DESEJOS PERFUMADOS
DA REGINA
BJ