sábado, 14 de janeiro de 2012

Maria e o Sapo

Maria empurrou seu prato de comida quase completo: “não quer”. “Sair.”
Tirei-a de seu cadeirão e sentei-me novamente: “Subir, colo”.
“Filha, a mamãe está comendo um papá. Olha aqui o papá no prato. Quando eu acabar carrego você.”
Conformou-se. Deu as costas e desapareceu. Uns barulhos depois ela reaparece, carregando pela barriga um sapo quase de seu tamanho. Um esforço aqui, outro ali: sentou o sapo no cadeirão. A perna do sapo enroscou, papai ajudou. Seguíamos comendo e observando a cena, um tanto surpreendidos com a desenvoltura nos cuidados do sapo (que fique claro, não é qualquer sapo, é o querido Sapo “Cululu”).
Passou o cinto por uma das pernas do bicho, procurou a outra ponta e atou: o sapo não escaparia assim tão facilmente. Pegou o prato de comida que rejeitara, pôs na frente do sapo. Pegou a colher: pôs na frente do sapo. Pegou a água.
Pensei que ela deixaria tudo ali, a comida, a água e o sapo com sua própria sorte.
Arrastou uma cadeira, sentou-se solenemente frente a frente com o bichinho e pegou um tomate com a colher, levando a sua boca de pelúcia: “Tomate! Mhhhhhh”. “Batata! Mhhhh”. “Papazinho?” “Toma água!”
A cena seguiu-se. Lá pelas tantas pediu um babador.
Fui sentar-me no sofá, ela veio sentar-se do meu lado. Minutos depois fui recolher o prato de comida e ela choramingou. Sentamos novamente no sofá, agora acompanhadas do bicho verde e do prato de comida. Ela comeu tudo, sempre depois de um bocado pro faminto sapo. Ambos escovaram os dentes, brincaram um tantinho e foram dormir, na mesma cama.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Seleção natural de Darwin

“Aborto em curso”, escreveu nesta manhã, conclusivo, o médico sobre o papel.
Às duas horas da manhã Maria acordou em pranto inconsolável. Eduardo tentou fazê-la voltar a dormir em seu quarto. Eu tentei fazê-la voltar a dormir em seu quarto. Mamadeira, mais cobertor, menos cobertor. Eduardo tentou de novo. Pranto inconsolável que permaneceu por muito tempo. Mais mamadeira. Nada parecia demovê-la.
Sentia uma cólica leve. Fui ao banheiro e havia sangue vivo, não muito. Avisei o Eduardo. Maria aos berros em minha cama, em soluço sentido. Abracei-a bem juntinho de mim. Beijei-a. Avisei-lhe que tudo estava bem e que ela podia relaxar e dormir. Enquanto minha cólica se intensificava, Maria calou-se e sobraram apenas os soluços e respiração ofegante, estremecendo todo seu corpinho. Por fim adormeceu.
Conciliei o sono depois de quase uma hora. Sonhei que expelia um menininho de uns 10 centímetros. Quase uma réplica de um boneco que ganhei na infância. Estava vivo mas sabia que não sobreviveria. Sofri o primeiro luto nesse momento.
Acordei pouco depois das cinco, travada de dor. Uma dor latejante, constante e intensa que dominava o quadril e as costas. Fui ao banheiro e havia muito sangue. Disse ao Eduardo que precisava ir ao hospital. Maria estava dormindo profundamente. Eu não alarmaria minha mãe a esta hora. Eduardo ficou com Maria e me dirigi ao hospital.
“Colo fechado e muito sangramento”, disse a enfermeira.
“E que significa isso?”, perguntei-lhe.
“Risco de aborto ou aborto retido”. A resposta foi delicada, ainda que direta.
Sofri o segundo luto neste momento.
Faria uma ultrassonografia. Eduardo chegou e senti-me amparada, protegida. Contei-lhe meu sonho.
Aguardei o exame por mais de três horas (o que acho um exagero... ainda que refletindo que sou uma privilegiada, que usufruo de serviço privado de saúde, e compadecendo-me dos que utilizam a rede pública).
A imagem mostrou uma mancha de contorno irregular, talvez o saquinho gestacional.
O médico me acolheu, receitou medicamento. Disse que seria expelido naturalmente em mais poucos dias. Eduardo me abraçou, me acariciou.
Voltei para casa e liguei para minha mãe. Permiti-me chorar enquanto dava-lhe a notícia. Sofri o terceiro luto. E senti-me aliviada e recomposta depois de falar com ela. Que bom ter minha mãe.
Maria chegou da escola toda cheia de alegria. Dormimos durante a tarde. Encaminhei-a para a casa da vovó. Aqui sigo com pequena cólica.
Sempre acreditei que a natureza segue seu curso e assim deve ser. O que senti foi pesar pelo fim de uma vidinha. Teria sido mais doloroso se fosse minha primeira gestação.
O que ficou foi a certeza da simbiose com minha Maria. A dor também era dela.

domingo, 10 de julho de 2011

Maria e a barriguinha

Contei para Maria que aqui na barriguinha, seu primeiro abrigo para prepará-la para a vida, há outro bebê. Ela me olhou, escutou, virou-se e continuou atenta em seus afazeres (no caso, encaixar um triângulo e um quadrado nos devidos orifícios da mesma forma).
Com o atraso do ciclo fiz um teste de farmácia. Para retificar, fiz outro, meia hora mais tarde. Mas isso não tem nada a ver com saber-me grávida. Dois dias antes do teste olhei-me no espelho do elevador, bem de frente. Foram os olhos que denunciaram. Olhos luminosos. E a pele viçosa. ‘Que belezura! Da última vez que me vi assim, esperava minha Maria!’, pensei.
Estar grávida pela segunda vez é menos aflitivo, ao menos no que diz respeito às mudanças fisiológicas de mãe-bebê. Quanto às ansiedades do porvir, são outras. Não me pergunto se serei boa mãe, se serei pacienciosa, se saberei acudir suas necessidades. Pergunto-me: Maria se sentirá posta de lado? Como aceitará o bebê? Saberei dosar as atenções sem pender a balança? E meus momentos só com ela, serão de alguma forma preservados? E quando os dois chorarem ao mesmo tempo?... Por aí vai.
Quanto ao pai, da primeira vez que ficou grávido, teve uma apendicite 15 dias depois da notícia. Desta vez, 15 dias depois, enjoou, vomitou, teve febre. Já está recomposto. Ele, pra poder gestar, gosta de sentir nas vísceras a experiência de ser papai. Quanto a mim, me sinto ótima!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Super Mammy e Maricota adormecida

Estou aqui, me remexendo no sofá, pensando em quantas vezes acompanhei as mães em Super Nanny, pondo seus rebentos na cama pela 89ª vez, sob o duro olhar da tia do laçarote no pescoço. Com meu julgamento afiado repetia em minha cabeça: como essa mãe (por que não pai?) deixou a coisa degringolar desse jeito?

Maria dormiu feito anjo até os seis meses. Eu seguia uma rotina impecável de colocá-la na cama sonolenta, porém desperta e ela dormia toda a noite, das 8h às 6h. Foi então que minha sogra veio para cá de mala e cuia passar as férias, no quarto colado com a Maria Eduarda. Nestas de querer (com)provar que sou excelente mãe não querer incomodar a visita, bastava Maria suspirar que eu estava em cima dela. Pois as férias chegaram ao fim, lá se foi minha sogra com a mala e a cuia e o que restou foi um bebê chorando de hora em hora.

Nesse ínterim, Maria passou a ficar com meus pais para eu trabalhar e os avós acostumaram-na a adormecer nos braços.

Dito e feito. Passei a ter um bebê que só adormece acompanhado e que acorda de hora em hora (que nem a telesena).

Até aí ainda não havia perdido o rumo. Foi então que no fim do ano Maricota adoeceu pela primeira vez e abrimos a concessão para ela dormir no “meinho”. Ela sarou e uma semana depois fomos nós, de mala, cuia e filha visitar a sogra. Sem berço, ela continuou dormindo na nossa cama por mais uma semana. Pronto: quase 10 meses dormindo formosa em seu bercinho e bastaram duas semanas de “meinho” pra coisa desandar.

Desde então ela dorme na caminha dela e lá pelas tantas abre um berreiro. Eu, morta de sono, faltando poucas horas para as 6h, apalpo aquele corpinho sentadinho em sua cama e levo-a, no escuro para minha cama. Lá ela fica um tempo num comportamento de minhoca (deve ter a síndrome das pernas inquietas, não é possível...), me apalpa, chupa o dedo, senta, deita, revira, desfere alguns chutes descontrolados.......... e dorme.

Pois hoje enxuguei o cuspe enorme que caiu sobre minha testa após anos a fio de cusparadas para cima, lembrei-me de Super Nanny com seus óculos e sua coleira-laçarote e pus Maria numa caminha de solteiro na altura do chão. Protegi devidamente as paredes para amortecer os golpes de minhoca e pus a bichinha deitada. Deitei-me com ela. Coloquei-a de volta deitada umas 30 vezes. Saí de lá na pontinha dos pés. Chorou uma vez e Eduardo foi fazer as vezes. Deu um chorinho breve agora mesmo.

Estou com o propósito de manter-me firme. Veremos se Super Nanny tinha razão.

domingo, 10 de abril de 2011

Maria pintadinha

Maricota andou dodói. Sete dias doente, dos quais cinco com febre. Chegou a 39,8ºC.

Começou com uma febre que foi subindo e subindo. Dois dias com Maria no colo ou dormindo ou ambos. Tylenol e banho morno. No terceiro dia, médico. Luzinha na orelha, palito na garganta, coco mole, picada no braço, xixi na bolsinha. Tylenol, banho morno e um bebê molenga. Quarto dia, médico e “diagnóstico" de virose. Quinto dia, picada e xixi no saquinho: sorologia de dengue. Mais luzinha na orelha e palito na garganta. Um bebê apavorado cada vez que via uma maca. Sexto dia, médico, luzinha e palito: muitas pintinhas nas costas e na barriga. Depois no rosto e nos braços, textura de casca de laranja. Febre baixinha e coco mole. Bebê irritadiço, chorão, agarrado na mãe. Cama de mãe a noite toda. Sétimo dia, pintinhas nas coxas e nenhuma febre: sorologia de dengue negativa. Bebê muito irritado. Oitavo dia, sem febre, pintinhas nos tornozelos e batatinhas da perna. Sorrisos, bom humor e várias sonequinhas. Dorme em paz agorinha, pesando 700 gramas a menos que há uma semana.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Berçário


Maria Eduarda definitivamente começou na escolinha. Na sexta ficou lá por uma hora e meia, na segunda por duas horas, na terça umas três horas e pouco, assim como hoje. Sexta aconteceram lágrimas minhas. Segunda, lágrimas dela.  Terça, lágrimas de ninguém. Hoje, lágrimas dela e um coração apertado meu. Sofreu na hora da soneca. Depois de um berreiro dormiu abraçada na Constança, sua boneca-travesseiro.
Antes de chegar à conclusão de quais mãos cuidariam de minha Maricota, passei por meia dúzia de escolas. Como foi difícil. Segue um resumo da peregrinação.
Escola A – Berçário ao 9º ano. A semi-selva foi visitada no fim do período letivo. Terreno altamente acidentado. Embora cheio de verde e muitos bichos, tudo muito claustrofóbico. Construíram por todo lado como uma metrópole que cresceu sem planejamento. A direção me recebeu com ar desconfiado, quando eu disse ser professora. Desdobrou-se em mostrar como eram as apostilas de educação infantil e como as crianças ‘preenchem as atividades com a ajuda das tias e aprendem muito com isso’. O berçário é bem improvisado, numa sala com divisórias destas de escritório. Fiquei alerta quando a direção pronunciou mal uma palavra corriqueira e confundiu-se em cálculos para chegar ao preço do cuidado/ensino. O berçário dá a sensação de aperto.
Escola B – Berçário ao ensino médio. Fui conhecer no fim do ano. Ambiente visualmente limpo. Organizado. Pequeno na medida justa. Arejado. Não gostei do fato de darem comida congelada aos pequenos. O que gostei foi que, embora o berçário em si seja um lugar pequeno, o espaço circundante não... O que convida a passeinhos de carrinho e muitas caminhadinhas quando os pequenos aprendam a andar. O berçário dá a sensação de paz. Preção.
Escola C – Berçário ao ensino médio. Fui conhecer no meio do ano passado. Enorme, ainda que hermético. Tem certo clima de hospital. Tudo milimetricamente planejado. Alimentação impecável. Porém, com muitas crianças por turminha. Desgostou-me que os jardins, tão enjardinados, só servem para olhar... não pode pisar. Obsessão por limpeza (ou desperdício): pedem três mudas de roupa e 5 fraldas para passar uma manhã. Lista de material gigante. Ficou uma sensação de supérfluo e de distância do meu cotidiano. Preção.
Escola D – Berçário até três anos. Conheci no meio do semestre passado. Pequena. Uma casa comum adaptada. Quase nada de quintal. Quando entrei, a ampla TV da sala estava sintonizada na Discovery Kids. Perguntei à coordenadora sobre a TV e ela disse que está na programação das atividades diárias assisti-la por uma hora pela manhã mais uma hora à tarde. Entrei numa das salas e haviam 7 cadeirões com sete bebês de um ano e pouco sentados, enfileirados numa parede, enquanto a “tia” recortava papéis. Pareceu-me uma escola sem alma.
Escola E – Berçário e educação infantil. Visitei duas vezes. Uma com o Eduardo. O prédio fica no meio do terreno, o que possibilita que o sol atinja todos os lados do prédio. Agradável, arejado. Na primeira visita, ao estacionar na porta, um lindo som de violão e algumas vozes de crianças. Era aula de música. Da segunda vez, na sala principal alguns bebês dormiam em bebês conforto enquanto a caixa de som reproduzia baixinho uma música clássica. A casa possui ampla varanda: para fazer sujeira, brincar com tinta... comer melancia, brincar com água. Na hora da refeição a comida é disposta como no dia-a-dia da casa da gente: arroz, feijão, legumes, saladinha, carne.  Tudo na altura das crianças. Elas vêem seu prato ser servido. Lugar encantador. Fiz uma proposta sobre o valor da mensalidade. Foi negado. A escola é feliz.
Escola F - Berçário até um ano e meio. Visitada há uma semana. Vista de fora é mais interessante. A porta que dá acesso ao ‘corpo’ da escola é tão estreita que uma pessoa encorpada certamente entalaria. Uma casa simples, adaptada com o mínimo possível para ser uma escola. Salas minúsculas. O quintal tem chão de piso, como de cozinha (portanto, liso quando molhado). Sobre esse piso, alguns brinquedos de plástico. Apenas alguns metros quadrados de grama, a parte mais legal da escola.
Escola G – Educação infantil a partir de um ano. Visitei a escola no fim do semestre passado e novamente há uma semana. O terreno é enorme. Da primeira vez achei a casa mal cuidada, bagunçada, visualmente poluída. Fiquei insegura porque a parte física da escola dava a sensação de descaso. Soma-se que fui num dia chuvoso, o que impossibilitou conhecer toda a área externa. Nesta segunda visita, a casa passou por reforma e pintura (ainda em finalização). Tornou-se aconchegante. Tem um ar de casa de vó. Desde a primeira vez gostei da proposta pedagógica. Os valores desenvolvidos são parecidos com os que cultivo. As crianças de várias idades convivem. As professoras são designadas a seus grupos, mas também são responsáveis por todos. O super quintal conta com parreira, jaboticabeira, goiabeira, jambolão, milharal, mandioca, horta, galinhas, coelhos, porquinho da índia. Reciclam, fazem compostagem. Decidi-me por essa escola. É uma escola feliz.

Acho que escolher uma escola será sempre difícil. Queremos o mais parecido possível com o que faríamos com nossos filhos se estivéssemos em casa. Queremos que as professoras olhem para nosso bebê com o mesmo amor. Que o acolha da mesma maneira que faríamos. A única coisa que fiquei alerta com a escola foi com a alimentação. Embora tenha passado por longa entrevista sobre os hábitos alimentares da Maria Eduarda, isso não foi imediatamente passado para a responsável por ela. No segundo dia de adaptação tentaram dar a ela leite com achocolatado. Imediatamente fiz uma carta de próprio punho com todos os tin-tins. Tudo resolvido.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Fralda-surpresa!


Então abro sua fralda para a troca e, em meio a tudo aquilo, vários papeizinhos azul Royal gravados com minúsculas letrinhas pretas. Não me detive a examinar o texto, a fim de investigar a origem...
Filhos nos fazem conviver com o cocô de maneira fraternal: fungadas no bumbum do bebê para detectar odores suspeitos; recuperar bolinhas que saem rolando numa ou noutra troca de fraldas e sim, minha gente, pescar a merda com as mãos quando relaxam demais na hora do banho e resolvem se aliviar ali mesmo. Fora o monitoramento constante de assiduidade e textura. A merda é todo um universo do bem-estar do bebê.
E sobre sentir-se bem, Maria tem seus caprichos. Jamais faz cocô em fralda encharcada de xixi. Costumo ter sempre um pacote de fraldas baratas, pra serem usadas por 15 ou 20 minutos entre as 7 e 8 horas da manhã. Uma por dia. Basta trocar a fralda da madrugada e Maria pensa: “banheiro limpo, aqui vou eu”.

domingo, 2 de janeiro de 2011

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Maria, meu pingo

Às vezes me pergunto como posso amar tanto esse pingo de gente. Na vida pré-Maria, tudo era completo, nunca senti que faltava algo. Mas após sabê-la, lembro-me de como era antes e... como podia ser?
2010 foi um ano surreal. Tantas coisas ao mesmo tempo, tanta intensidade, tanto trabalho, tanto aprendizado, tanta angústia e, sim, felicidade. Foi ano de aprender a fazer tudo o que eu fazia antes, transformando e adaptando, em conjunto com todas as coisas novas. Acho que sou mais cansada eficiente agora.
Antes de Maria nascer eu acordava às 6h, tomava meu banho, preparava meu café da manhã e sentava-me para tomá-lo, lendo notícias e e-mails. Escovava meus dentes, passava uma base sob os olhos e um pó na pele. Dava uma ajeitada rápida no cabelo. Saía calmamente às 6:55h rumo à escola.
Em minha vida pós-Maria, depois de uma ou duas acordadas na madrugada (quando sim, penso nos bebês do futuro, dotados de um botão ON-OFF), levanto-me arrastando-me às 6:15h, dou uma mamadeira, troco sua fralda, vou pro banho, arrumo suas coisas, arrumo minhas coisas, engulo o café da manhã, espicho o olho pro espelho para ver se não há nada anormal e saio esbaforida com um bebê embaixo do braço, às 7:05h.
Isso pra falar apenas do que aconteceu das 6 às 7 horas.
Minha rotina virou do avesso. Mantenho a atenção aos meus pais, irmãos e sobrinhos. Mando e-mails regulares aos sogros com fotos e notícias da pequena. Porém, a dedicação aos amigos caiu. Faltam horas dentre as 24. É tanta junção de afazeres... Em alguns devaneios me imagino enchendo os pulmões de ar e dando um sopro bem forte no mundo, fazendo com que tudo pare. Nesse mundo em suspenso eu poderia ler um livro e dormir várias horas.
Sou mais feliz do que era antes. Minha compreensão de mundo mudou. Assim como o meu entendimento sobre minha avó e mãe.
Minha vó Lica, que Deus a tenha, não podia me ver que dizia: “Que você arrume um marido bom”. Esse “bom” não estava vinculado a um “bom partido”, no que se refere ao senso comum, financeiro. Mas no sentido de “alguém que acompanhe bem”. Quando estamos abraçadinhas e Maria adormece, me vem este pensamento: E quando eu e Eduardo faltarmos? E em seguida vem: vamos fazer um excelente trabalho agora, a cada dia. Educá-la para ser equilibrada, independente e feliz. E então me vem minha avó em meus pensamentos. E olho para Maria e penso: Que você encontre alguém que a acompanhe bem.
Meu pinguinho bem cuidado é o devir de um pingão, feliz.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vestido florido e dois dentes

Uma preciosidade que engatinha por toda casa atrás do perigo. Cheia de sorrisos, algumas gargalhadinhas, dois dentes em baixo. Uma gengiva mega inchada em cima.
Voltou a acordar uma ou duas vezes para mamar. Acorda às vezes aos prantos querendo um abraço.
Aprendeu com os avós a dormir no colo.

Linda de dar gosto.