domingo, 28 de fevereiro de 2010

Vida com um bebê de 5 semanas


Esta semana cheguei a um estado de cansaço em que todo o meu corpo dói e meus olhos querem fechar sozinhos. Minha casa não está necessariamente limpa e organizada. Faxineira doente e noites mal dormidas. Não consigo atender às demandas sociais; responder e-mails, dar um telefonema, encontrar pessoas, dar atenção aos amigos. Acho que estou num momento de recolhimento. Quando dormirei uma noite completa e acordarei suavemente depois das 6h?

Maria está um encanto. Começou há uns dez dias com tímido sorriso em retribuição ao meu. Agora retribuimos os sorrisos dela, a cada dia menos desajeitados. Ainda não acontecem a todo momento, mas são cheio de charme. Ela está com um mês e uma semana. Pesando quase um saco de arroz, o que deixa meus braços bambos.

Sempre pensei que mães que diziam que o dia passava e praticamente não iam além de cuidar do bebê, eram pessoas desorganizadas. Neste pouco tempo já pude comprovar todas as verdades que eu acreditava mito: que os bebês crescem vertigionosamente e perdem roupas muito rápido; que sujam fraldas na mesma intensidade com que mamam; que o dia voa e praticamente dou de mamar, conversamos e brincamos um pouco, faço seu asseio (e o meu também) e cozinho. As orientações que recebo sugerem que devo dormir ou descansar sempre que ela dorme. Quase impossível! Sempre tenho assuntos a tratar e tarefas domésticas... minhas tentativas de soneca são quase sempre frustradas.

Ainda estamos nos conhecendo e muitas vezes peno. Fome, dor de barriga, cansaço, carência, manha? Quinta passada estávamos num congestionamento horroroso e era quase hora de ela mamar. Começou um chorinho que foi se intensificando. Os carros não saíam do lugar e os berros e as lágrimas se potencializaram tanto, que viraram engasgos. Me pus a chorar também, dando seta para enfiar-me na primeira rua em que pudesse estacionar. Consegui depois de alguns minutos de angústia. Amamentei por 20 minutos, até ela dormir, exausta.

Maria já reconhece minha voz. Reconhece a música de um brinquedo que a faz dormir e gosta de acompanhar seu móbile com os olhos. Está bochechuda e sua pele está mais lisinha, sem as espinhinhas das primeiras semanas. Adora dormir de barriga para baixo.

Maria é linda... Carregamos o bebê por 9 preciosos meses, e quando nasce tem a boquinha do pai. E a orelha do pai. E os olhos. Até as sobrancelhas.


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Monólogos (estranhos) do pai

Eu enchendo a banheirinha da Maria e Eduardo conversando com ela:
"Vas a bañarte en la tina, como Cleopatra... pero no en leche, vas a bañarte en agua". (Você vai tomar banho na banheira, como Cleópatra... mas não em leite, vai tomar banho na água.)

...

Eu na cozinha, apenas escutando:
"¿De quién son estos cachetitos de marrana flaca? ¿De quién son estos cachetitos de marrana flaca?" (De quem são essas bochechinhas de porca magra?)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O parto, Maria e peitos


Amanhã nossa filha cumprirá duas semanas de vida fora da barriguinha. Às vezes olho pra ela e custo a acreditar que ela é a mesma que eu sentia dentro de mim. Mexe muito bracinhos e perninhas. Soluça a toda hora. Algumas vezes procura o peito com sofreguidão, como se ele fosse fugir.

Os últimos dias de gestação foram difíceis. Psicologicamente difíceis. Fisicamente, apenas o cansaço. Desde 1º de janeiro esperava pelo sinal de que ela chegaria. Intensifiquei caminhadas, aconselhei-me com minha doula, fiz acumpuntura, conversei com Dr. Alfredo, fiz exercícios na água... Queria um parto normal e uma possível cesária me arrepiava os cabelos.

Estava com mais de 40 semanas quando Dr. Alfredo agendou o cheque mate. Dia 21 faríamos a indução, com 41 semanas. Iniciamos a indução ainda na madrugada, acreditando que dali a um tantinho começaria a sentir as contrações. Apenas algumas cólicas esparsas. Internei às 7:30h e aplicamos os comprimidos mais três vezes ao longo do dia (um comprimido relativamente grande, colocado no fundo da vagina). Caminhei, almocei, cochilei. Nenhum sintoma que me fizesse alarmar. Comecei a ficar ansiosa.

Às 19:30h eu estava com 1 cm de dilatação. Dr. Alfredo recomendou a cesárea, com ares de paizão. Fui para o centro cirúrgico entre lágrimas. Pavor. Enquanto estava curvada e o anestesista “desinfetava” a pele das minhas costas, eu pedia a Deus pra tudo dar certo. A enfermeira segurava nos meus ombros e aqueles minutos pareceram eternos. Deitei e as pernas esquentaram, depois formigaram. Depois umas pressões aqui e ali. Desinfetaram a barriga. Acho que também as pernas. Passaram uma sonda pela uretra. Eu disse “Dr. Alfredo, espere mais um pouco, ainda sinto alguma coisa”.

O anestesista era um bom narrador, foi me contando tim tim por tim tim cada detalhe até o nascimento da Maria. Ele disse ao Eduardo, “pode ligar a câmera, porque vai nascer”. Eduardo estava em êxtase. Ele que fala relativamente pouco e discretamente, dizia alto “Maria, Maria, olhe pro papai”. Eu, entre lágrimas e soluços.

Quando ela nasceu me senti tão aliviada que assim que ela saiu da sala com o Eduardo e com a pediatra, passei a rir e gargalhar.

A coisa mais estranha de estar anestesiada (e consciente) foi ver a minha perna erguida lá pro alto e não senti-la, enquanto a enfermeira me manipulava. Parece que não era parte de mim. Acabou a cirurgia e imediatamente passei a sentir coceiras horrorosas. Começou simultaneamente nas duas axilas.

Fiquei umas quatro horas na sala de recuperação. A uma da manhã fui pro quarto. Uma meia hora depois entrou uma enfermeira empurrando um bercinho de acrílico. Ela pôs Maria Eduarda em meu braço direito para mamar. Indescritível a emoção que senti. Disse “Oi, filha. Como você é linda”. Não pude parar de chorar e assim permaneci toda a primeira semana. Emoção irreprimível cada vez que me lembrava desse nosso primeiro contato íntimo, apenas nós, quietinhas, quentinhas, abraçadas.

Nestas duas semanas parece que entramos em um turbilhão, num tempo paralelo. Tudo voou. Nos fins de tarde da primeira semana eu entrava num estado “blue”, emotividade. Olhava pela janela, via o trânsito e pensava “nossa, a vida continua lá fora”. Esta semana a emotividade vem no nascer do dia, quando eu ainda desperta vejo a noite acabar sem quase pregar os olhos. Hoje, às seis da manhã, ainda na mamada começada às quatro, meus olhos estavam em órbita. Numa mistura de sonho e realidade pensava se o Eduardo não teria algumas glândulas mamárias atrofiadas, como um vulcão adormecido, esperando um fator desencadeante para a produção do leite. Fiquei ali, Maria sugando e eu de olhos fechados imaginando o Eduardo de seios fartos e férteis (e peludos).