quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O pai da Maria Eduarda

Descobri que minha vida doméstica é (salvo exceções) um monólogo. Eu falo e Eduardo escuta. Estou com laringite aguda, com a recomendação de tomar muita água, nada de gelados e repouso vocal absoluto. Descobri que, dentro desse panorama, minha casa é um silêncio. Monótona até... Sorte que passei esses últimos dias absolutamente absorvida em ler e escrever. Também me pus a refletir se não falo demais pra preencher o espaço... todo o espaço (e olha que de fato acredito que ando mais introspectiva... como seria antes?)
Outro dia (quando ainda tinha voz) deixei a sala e fui para o quarto da Maria Eduarda, ler. Não avisei ao Du meu paradeiro, já que em linha reta eu estava a menos de 7 metros. Minutos depois, parado na porta, estava ele.
“Que você está fazendo?”
“Estou lendo”.
“Mas por que aí? ... digo... pode ser aí... Mas é que se você estivesse na sala...” Ele ficou quieto uns instantes... “eu não ia falar com você mesmo, mas você estaria lá”.
Começamos a rir. Ele de si mesmo.
Para quem não sabe (acho que todos sabem) conheci o Du pela internet, quando ainda nem era popular usar câmeras e microfones. Foi a sorte. Imaginem que porre seria eu falar e ele escutar uma noite inteira num barzinho...
O bom é que há dias em que ele está inspirado e fala pelas tampas, sobre os mais variados e interessantes assunto. Ótima companhia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Um saquinho de açúcar

Nos últimos dois dias comecei a sentir uma sensação “lá” (leia-se vagina). Não posso qualificar de dor. Não dói. É mais como se alguns ossinhos estivessem meio pressionados e empurrados pro lado direito e esquerdo. Minhas amigas nunca grávidas podem estar tentando imaginar... Aos amigos, a abstração.
São 4 da manhã, estou acordada talvez desde as 2. Esta noite perdi a posição na cama... depois minha barriga estava meio dura e senti umas dorzinhas. O problema de nunca ter sentido certas coisas é nunca ter certeza do que se sente... Fiquei pensando se não seria uma dor de barriga ordinária que terminaria no banheiro. Não. A dor passou, a barriga tá molinha, o sono desapareceu, a fome apareceu e estou aqui, degustando um mamão.
Tenho percebido meus esquecimentos. Juro que achava que isso tudo que dizem de mulher grávida ficar mais lerda de raciocínio ou de esquecer coisas era lorota. (Acreditava ser calúnia machista, obvio) Tenho tido amnésias, principalmente sobre assuntos tratados ao telefone e “mais principalmente” se eu estiver com sono. Acho que grávidas tem alguma alteração de consciência...
Meu estado de espírito anda oscilante, ainda (até quando??). Horas excelentes versus crises existenciais, tudo num mesmo dia. Estou, em geral, mais introspectiva. Ah, fiz 30 anos.
Bom, a esta hora Maria Eduarda deve pesar mais que um saquinho de açúcar. Na semana passada eram 991 gramas e 32 centímetros. No último ultra som ela estava com a cabeça pra baixo, com a coluna do lado direito da minha barriga, bundinha pra cima e pés na cabeça. De fazer inveja a qualquer guru indiano!
Minhas leituras e meu tio me recomendaram dormir com o lado esquerdo do corpo na cama. Todos os dias me posiciono assim na maior boa vontade. Quase sempre acordo do lado direito. Volto para a posição número um e recomeço tudo. Já tentei os dois lados da cama, pra ver se tinha influência... Acho que vou destrocar uma vez mais... quem sabe.
Também ando meio calorosa. Mesmo nas noites mais fresquinhas jogo cobertas e lençóis pro lado e fico ao “relento” e sem frio nenhum.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Hot wheels e mil caras conhecidas

Há um e-mail que vive circulando por aí (já o recebi duas vezes) chamado “sem etiqueta, sem preço”. A mensagem refere-se a um músico, Joshua Bell (um dos melhores do mundo) que passou 40 minutos tocando no metrô de Nova Iorque com seu superviolino de 3,5 milhões de dólares. E então? Mais de mil pessoas passaram por ele sem nem espichar o rabo do olho.
Bem, isso me veio à cabeça porque hoje conheci o Ítalo, porque tenho um sobrinho que tem quase 5 anos e porque Maria Eduarda está por chegar.
Fui comprar o enxoval da minha filha e me senti meio oprimida em alguns ítens. Tudo muito cheio de caras conhecidas... Pooh, Minie, Mikey, Moranguinho... Tentei fugir deles. Ainda posso escolher.
Desde que meu sobrinho nasceu, não acerto na maioria dos presentes. De fato nunca fui familiarizada com o universo infantil, estou começando meus primeiros passos nessa direção. Quando eu morava na Espanha, mandei uma caixa-livro-objetos, para compor histórias. Uma coisa para brincar pais e filhos, mas acho que errei na idade, era para uma criança com a idade que ele tem hoje. Depois (ou antes, não sei) teve uma barraca dessas que parecem uma casinha, mas ocupa muito espaço e acho que não é bom para espaços pequenos... O último que dei, achei super poético. Comprei baldinho, pazinhas, terra, vaso e sementes. O plano era plantarmos juntos, curtir e ele acompanhar entusiasmado o crescimento da plantinha. Pus tudo numa caixa e lá fui eu, para uma tarde ecológica. Pacote na mão, ele abriu, escrutou e perguntou “cadê a surpresa”? (tinham prometido uma surpresa que eu levaria a ele, acho que geraram muita espectativa... tal palavra sugere que devemos surpreender). Bom, tentei manter o ânimo, fazer de conta que era super legal plantar as sementinhas e passamos juntos dez minutos desentusiasmados. Fiquei pensando que até então comprei o que era legal para mim, não para ele (em geral na minha infância não ganhei presentes de “fazer coisas juntos” e achei que seria bacana). Essa situação precisava de ajustes...
Fui hoje para o corredor de brinquedos encontrar algo super legal para o dia das crianças e aniversário do meu sobrinho. Dentro do que pretendia investir, achei interessantíssimo um caminhão de bombeiros que atira água e também uma picape que puxa um jetski. Ambos indicados para a faixa etária buscada. Achei bonito. Mas ainda a dúvida, não queria errar de novo e dar presente para mim... Vi então um garoto de olhos arregalados de vontades, sozinho enquanto os pais deviam estar em outro corredor:
“Ei, você pode me ajudar?”
“Posso”
“Se você tivesse 5 anos, gostaria mais deste caminhão ou dessa caminhonete com jetski?”
“Quando eu tinha 5 era melhor esse que joga água”.
“Quantos anos você tem?”
“Dez”.
“Então este é mais legal?” Perguntei já abraçando a caixa de uns 50 centímetros.
“Olha, legal, LEGAL MESMO, é Hot Wheels.”
Cara minha de exclamação.. senti a sombra de tia chata sobre mim...
“Vem aqui ver” (ele estava entusiasmadíssimo). “Esses aqui, ó”.
Uma coleção com 5 carrinhos minúsculos, mesmo preço do meu super caminhão de bombeiros de 50 centímetros que joga água.
“Isto é legal?”
“É o melhor, ainda mais se tiver o carro tubarão”.
Ítalo foi me mostrando as diferenças de modelo, o carro tigre (um pouco menos legal que o tubarão), um outro modelo estrambólico que é o carro mais chato de todos.... Até que, buscando, achamos a coleção com o carro tubarão, chefe de todos e super legal.
Agradeci a lição e ele continuou ali, babando numa pistinha de automóveis da Hot Wheels.
Lembro que na minha infância tive uma borracha da Pato Donald. A-ma-vaaa. Também uma boneca “cafezinho” da coleção Moranguinho (tenho até hoje, gosto do cheiro e ganhei da minha prima).
Na adolescência fiz (venci pelo cansaço) meu pai me comprar um jeans M. Officer, última moda e o olho da cara. Nem usei muito... eu era gordinha e jeans da moda só existe pra corpinhos na moda. Comprei justo.
Depois disso fiquei pensando no encanto “adulto” por aquela marca cujo símbolo parece uma letrinha C esticada embaixo, naquela outra que mostra um cavalinho preto num fundo amarelo, ou naquela com um jacaré de boca aberta... Pra pensar...
PS. Para quem quiser ler a notícia do Joshua Bell e a iniciativa do jornal Washington Post no metrô, acesse: http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=160685&visual=3&layout=10

Laçarotes rosados - De 01 de outubro

Já quase me esqueci de como é menstruar e sinceramente não estou sentindo falta de absorventes aquecendo minhas “partes”... nem das dores de cabeça da TPM, nem das cólicas nas horas de trabalho.
Pelo calendário da menstruação, contando mês a mês desde a última, entro no sexto mês de gestação no próximo dia 07. Estou hoje com 25 semanas.
As coceiras continuam e estou com uma barriga grande, sendo besuntada em cremes religiosamente duas vezes por dia. Tenho sentido alguma falta de ar e estar deitada não é propriamente confortável. Se adormeço de barriga pra cima eu sufoco. Até posso ficar nessa posição, mas acordada, lendo, e nem assim é tão gostoso. Ainda não me arranjei de lado. Me falaram de um travesseiro embaixo da pancinha. Tentei, mas preciso de mais prática. Saudades mesmo da barriga no colchão e cabecinha de lado...
Minhas últimas noites foram tranquilas, sem sobresaltos ou insônias. Cheias de sonhos.
Voltei a trabalhar, depois de dois longos meses de “licença suína”. Me sinto ótima. Nada como desenclausurar, ver gente, trocar idéias, escutar que estou linda (sim, meu ego estava precisando) e ganhar afagos na barriguinha! Cortei meu cabelo e estou satisfeitíssima com o novo look. Repaginei.
Também cheguei à conclusão que vestir roupa de grávida faz toda a diferença, parece que o corpo “encaixa” no modelito. Nada de puxa daqui e dali, nem de blusa levantando aparecendo uma fatia de “pancex”.
A última notícia é que comprei roupinhas (y otras cositas más) e estou fazendo as pazes com o mundo dos laçarotes cor de rosa. Lilás e rosa.... Rosa e lilás... às vezes um amarelo ou branco e até um vermelho. Difícil essa restrição na palheta. Bom que ao menos os modelitos femininos variam ao infinito.

Mais uma noite acordada - de 25 de setembro

Geralmente é assim, levanto-me rumo ao banheiro, louca de vontade de fazer xixi. Volto pra cama pensando na morte da bezerra, escutando a estrada bem longe e imaginando que horas seriam. Esbarro os pezinhos no Du para tranquilizá-lo (estou viva) e relaxo. Maria Eduarda, com tanto espaço após meu xixi, desperta e resolve dançar frevo.
Passam-se alguns minutos e sinto fome. Inadmissível. Nunca fui de fazer banquete de madrugada e sempre cultivei a certeza de ser esse um mau hábito. Com Maria chutando e o estômago roncando, meu pensamento (sempre muito inflamável) pega fogo: roupinha, carrinho, aleitamento, berço, bons exemplos, educação de filhos, educação de alunos, emprego. Lembro-me do último sonho antes de despertar: num quarto com tatame fiz acrobacias incríveis, meio matrix, mesmo com pancinha. Eu mais leve que pena.
Percebo que estou enlouquecida de fome, mando os bons hábitos às favas (pra não dizer pra P.Q.P.) e resolvo banquetear. Quatro e tanto da manhã. Calculo que o xixi aconteceu às três. Amasso banana com aveia e preparo um leite com café. Espicho o olho prum pão doce de côco e penso que seria pegar pesado demais a essa hora. Marco com ele pro café da tarde.
Ligo a tv. Me impressiono (uma vez mais) com os bons programas da madrugada, hoje foi Chagall, no GNT. Venho pra net.
As mais recentes mudanças notadas são que meu umbigo está mais raso, a barriga está mais dura, os mamilos mais escuros, o cabelo mais grosso. Besunto minha barriga duas ou três vezes por dia com cremes e óleo. Agora deu pra dar coceira... na barriga, na perna, no braço...
Os altos e baixos ainda contecem. Semana passada tive uns dias de baixo e umas duas xícaras de lágrimas.